AS PRIMEIRAS ESCOLAS CLÁSSICAS DE FUTEBOL




Autor: Eduardo Cecconi
No início do século XX, apesar da situação quase amadora do futebol, já se difundiam conceitos que caracterizavam escolas de futebol em formação. Mesmo com bases táticas semelhantes - ou o 2-2-6, ou o 2-3-5 - utilizadas como default's, países influentes transmitiam também filosofias. Estratégias. Estilos de jogo.
No Inverting the Pyramid, livro escrito pelo jornalista Jonathan Wilson que serve de parâmetro para esta série de posts do blog Preleção sobre a evolução tática do futebol - leia também a influência do rugby na primeira tática, e as mudanças provocadas pela nova lei do impedimento - é possível identificar pelo menos três estilos de jogo completamente diferentes que se desenvolveram na transição entre os séculos XIX e XX.
Escola Inglesa baseava-se no kick and run. Força, mas acima de tudo velocidade. Apesar da mudança na lei do impedimento, que passou a permitir passes à frente da linha da bola, os clubes e a seleção da Inglaterra não abandonaram a estratégia de condução em disparada. Principalmente pelos lados. Alguns ainda no embrionário 1-2-7, outros já no 2-3-5, mas todos investindo demais nas jogadas laterais, com os wingers - jogadores que começavam a se destacar com duas prerrogativas fundamentais: alta velocidade e individualismo para decidir sozinho.
Mas, apesar de ter criado o futebol moderno, não foi a Inglaterra quem exerceu influência teórica sobre países da Europa, principalmente na região central do continente. Foi a Escócia, com o 2-2-6 do Queens Park, e um estilo descrito porJonathan Wilson como o close/quickly-passing (algo como "passes rápidos e curtos"). Uma estratégia de jogo absolutamente diversa da inglesa. Para os escoceses, a nova lei do impedimento surtiu o efeito ambicionado pelos seus idealizadores: incentivar as linhas de passe. Vale ressaltar que esse Queens Park não é o QP Rangers. É só Queens Park, conhecido como "The Spiders", clube que não deu sequência a seu sucesso. É o mais antigo da Escócia, mas milita nas divisões inferiores agora.
O estilo escocês foi importado por Áustria Hungria, formando a Danubian School, a partir de uma excursão de clubes escoceses na região. Austríacos e húngaros perceberam que era mais inteligente aproximar seus jogadores, trocar passes curtos e dessa forma abrir espaços, ao invés de fazer ligação direta para os wingers dispararem, como praticavam os ingleses. As duas seleções - Áustria e Hungria - assumiram até certo protagonismo nas primeiras competições e amistosos internacionais pela Europa, mas depois declinaram.
Outra escola clássica da "idade Antiga do futebol" nasceu no Uruguai, com repercussão semelhante na Argentina. Desde cedo resistentes à influência externa, os argentinos e uruguaios de descendência latina não gostavam do futebol de velocidade e força praticado por ingleses na disseminação do futebol pela região do Rio da Prata.
E começaram a improvisar, brincar com a bola, ludibriar adversários. Driblar. Conforme conceitua Jonathan Wilson, nascia o estilo home-grown (em português, algo como "feito em casa"). O futebol de improviso, mantendo a posse de bola em curto espaço. Foi dessa forma que o Uruguai conquistou duas Olimpíadas (24 e 28), dois Mundiais (30 e 50) e seis Copas Américas em curto espaço de tempo (16, 17, 20, 23, 24 e 26). 
Ingleses no chutar e correr; escoceses, austríacos e húngaros no passe rápido e curto; uruguaios e argentinos no drible e no improviso em pequenos espaços. Foram estas, segundo o Inverting the Pyramid, as principais escolas de futebol do início do século XX, que influenciaram tantos outros países a adotar estes mesmos estilos de jogo, mesmo que a base tática (o 2-3-5) fosse corriqueira.
Muito cedo o futebol já fortalecia o óbvio: sistema tático é uma coisa, estratégia é outra coisa, e apesar da qualidade técnica dos jogadores ser muito importante, o principal é a organização da equipe em um esporte coletivo. Wilson, assim como eu, também é contrário à frase "o jogador é quem decide", semelhante às frases "futebol é futebol", ou "tática pouco importa, o que faz a diferença é o jogador".
Fonte: Clic RBS

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